
É difícil explicar para um leigo como o governo brasileiro conseguiu quebrar a empresa estatal responsável pelo serviço postal na era do e-commerce, mas este é o quadro Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que nós popularmente conhecemos como Correios – favor não confundir com o nome deste brioso e muito vivo jornal. Para quem mora em Salvador, o retrato mais claro desta crise está nos escombros da sede da empresa no bairro da Pituba.
Os Correios acabaram de aprovar um plano de reestruturação que prevê, entre outras medidas, um novo programa de demissão voluntária, o fechamento de 1 mil agências consideradas deficitárias e a venda de imóveis da estatal que podem render R$ 1,5 bilhão. Para isso, terá que tomar um empréstimo de R$ 20 bilhões até o final deste mês, o que significa que tem menos de uma semana para definir o seu futuro.
A dinheirama deverá ser usada para reduzir o déficit, retomar o equilíbrio financeiro em 2026 e gerar lucro em 2027. As ações para garantir “continuidade, eficiência e qualidade” dos serviços postais foram aprovadas na última quarta-feira (dia 19).
Mas a verdade é que já faz alguns dias que o noticiário mostra o calvário da estatal em busca destes recursos e o que se sabe até agora é que vem tomando sucessivas portadas na cara dos bancos.
Segundo os Correios, o plano foi elaborado após análises da situação financeira e do atual modelo de negócio para retomar o equilíbrio financeiro em um prazo de 12 meses. Boa parte dos recursos que estão sendo buscados serão utilizados para convencer parte dos trabalhadores, que possuem estabilidade, a aderir ao plano de demissões.
Depois de registrar um prejuízo de R$ 2,59 bilhões no ano passado, entrou no primeiro trimestre deste ano com um rombo de R$ 1,73 bilhão, que se somou a outro prejuízo no segundo trimestre e já ultrapassa os R$ 4 bilhões em apenas seis meses do ano.
Um aspecto que chama atenção é que a empresa possui imunidade em relação à cobrança de determinados tributos, como IPTU de seus imóveis, ISS, além de não pagar impostos federais como o PIS/Cofins e IR, entre outros. Por outro lado, a empresa possui algumas obrigações, que elevam seus custos operacionais. O monopólio da entrega de cartas o obriga a operar em todas as regiões do país.
Alguns analistas acreditam que a remessa conforme, que ordenou as compras de produtos abaixo de US$ 50 do exterior, foi a pá de cal para os Correios. Antes, apenas a estatal atuava na movimentação dos produtos que vinham de fora, mas agora o serviço foi aberto para todo o mercado. A direção dos Correios estima um baque de R$ 2,2 bilhões só aí.