Lula abandonou o próprio governo no início do ano. Isso não quer dizer que o petista vinha exatamente governando antes disso, mas, após a frustração do pacote de corte de gastos em dezembro de 2024, o presidente simplesmente não se preocupa mais em fingir responsabilidade.
O plano não apenas não deu certo, como seu governo vem afastando o Brasil daquilo que ele precisa. Isso começou a ser feito antes mesmo do início formal do governo, com a aprovação da PEC da Transição, que ampliou em muito o horizonte para o gasto público.
A morte e a morte
Nos últimos meses, o governo atuou para elevar a carga tributária mais de 20 vezes, exatamente para fugir da missão que deveria de fato estar perseguindo (e que sobrará para o próximo governo, como os próximos governistas admitem): adequar os gastos públicos à realidade do país.
Nesta semana, Lula matou seu governo mais uma vez, ao estilo da novela de Jorge Amado, quando decidir retaliar o Centrão com demissões de seus indicados na Caixa Econômica Federal.
“Eu acho que vai ter um rebuliço do tamanho do mundo na próxima semana. Qual é o rebuliço? A Gleisi vai meter a faca. Eu estava na reunião com ela e o Lula. O Lula disse: ‘Gleisi, você agilize, viu, e mexa no vespeiro aí da Caixa Econômica para começar’. E, evidentemente, eles estão apavorados”, antecipou José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.
O rebuliço
É prerrogativa do governo distribuir esses cargos, mas esse expurgo não faz sentido do ponto de vista da governabilidade. Só um governo que não está preocupado com a governabilidade, aliás, tomaria esse tipo de decisão, e as consequências já se apresentaram.
O “rebuliço do tamanho do mundo” antecipado por Guimarães começou pela tentativa de convocar Frei Chico, irmão de Lula, para depor na CPMI do INSS. O governo conseguiu se livrar dessa, por enquanto, ao derrubar o requerimento de convocação.
Os governistas também conseguiram que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), adiasse a votação sobre os vetos do presidente ao projeto que instituiu a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, diante da perspectiva de que o governo seria derrotado.
Eleição
Tudo isso faz parte do pacote de vingança do Centrão que O Antagonista tinha antecipado, que conta também com o esvaziamento da PEC da Segurança, a derrubada de um decreto que amplia poderes da primeira-dama Janja a até a ressureição do projeto de anistia a Jair Bolsonaro.
Ou seja, o governo Lula se encalacrou mais uma vez com o Congresso, num cálculo que não faz sentido do ponto de vista do governo, mas pode muito bem ser trabalhado do ponto de vista eleitoral.
Aparentemente, os governistas se inebriaram com os resultados das pesquisas de opinião, que mostram recuperação da popularidade de Lula, e se sentiram fortes o bastante para desafiar o Centrão, já incomodado com a disputa aberta pelo comando das emendas parlamentares.
Para quê?
Isso pode ser usado para reforçar o discurso do “Congresso inimigo do povo”, mas vai dificultar ainda mais a vida de um governo que, por mais que conte com a ajuda do Supremo Tribunal Federal (STF), não deixará de depender do parlamento para chegar até o fim de 2026.
A pergunta que se impõe, diante de tudo isso, é: de que valerá para Lula se reeleger em 2026 se as reformas que ele não se dispôs a fazer no terceiro mandato serão inevitáveis a partir de 2027, e com um Congresso que se anuncia ainda mais distante dos petistas?